Estrela Cadente

  Quando cheguei já tudo tinha começado. Sentei-me então a observar o bosque à minha frente que estava a arder. Era recente, pois só umas quantas árvores ardiam, enquanto as restantes permaneciam intocáveis. Continuei a olhar para o fogo mas não me mexi; soube que não podia fazer nada para parar aquela tragédia provocada sabe-se lá pelo quê.
  Continuei sentado e descobri o que provocara aquele clarão de fogo. Olhei para o céu quase tão brilhante quanto o lume. As inúmeras estrelas piscavam tal como as faíscas do fogo. Descobri que tudo aquilo era obra de uma estrela cadente apaixonada e desiludida. Uma estrela cadente cai sempre que há atrito entre corpos - os meteoritos. Logo, esta estrela teve, certamente, uma grande discussão amorosa com o seu companheiro meteorito e decidiu ver como eram as coisas por cá.
  Eu penso que algo correu mal. Não era suposto desfazer-se em chamas... Talvez estivesse demasiado enraivecida ou zangada... Não, não eram estes os adjectivos adequados: ela estava demasiado apaixonada. E como sei eu disso? Sei, porque basta olhar para o céu para o saber. As suas companheiras estrelas olhavam cá para baixo piscando devagarinho e docemente. Tinham saudades e olhavam-na com paixão. Sei também que a estrela cadente estava apaixonada, porque consigo ouvir o seu arder crepitante e a uma velocidade moderada; não tem pressa, o pior já passou. O odor das flamas  não é muito agressivo: está arrependida, talvez.
  O fogo avança e eu nada faço. Fico ali petrificado, como que enfeitiçado, ao ver o bosque ser vítima do fogo da paixão. Quando o assunto é o amor, já não há volta a dar. Este fogo não tem quem o consiga apagar!


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