O Beijo

  Senti o alucinar da música nas veias, no sangue que corria acelerado pelo meu corpo. Pensei, perguntei-me, se te sentias assim quando me tocavas, quando me olhavas daquela forma ternurenta. Imaginei que pensamentos terias quando me olhavas, tentando decifrar a minha emoção. 
  Nunca precisei de te tocar para me sentir assim, a flutuar, como se fosse uma alma a fugir de um corpo. Nunca precisei de te tocar para sentir todos os poros da minha pele arrepiarem-se. Nem o dia mais chuvoso me fazia sentir mais frio que o teu olhar curioso, que trespassava a minha carne apaixonada com uma velocidade extenuante; uma velocidade de quem tem pressa de entender de onde vem o amor.
  Então, tentavas entender tudo isso pelo meu olhar, e eu pelo teu, mais enigmático do que qualquer outro. Acariciaste o meu cabelo, como quem desiste de tentar entender algo abstracto.

  Decidi dar-te uma explicação. Olhei-te nos olhos, o ar estava pesado, uma tempestade aproximava-se. Respirava com dificuldade, como se o teu olhar a pedir respostas me retirasse todo o ar. Beijei-te, como se fosse esse o remédio da minha escassez de oxigénio. Expliquei-te, assim, de onde vinha o amor e o que era o amor. Quando eu não conseguir respirar mais no meio deste mundo confuso e sofucante, irei procurar os teus lábios; e quando tu sentires a fraqueza apoderar-se de ti, os teus olhos procurarão os meus, tal como da outra vez procuraram, perguntando-me coisas que não sei responder. Vais procurar os meus lábios, pois irás lembrar-te da resposta. Eles ensinar-te-ão a respirar, como da outra vez. É assim o amor: vem não sei de onde, acontece não sei porquê.



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