Imagino-o a vaguear pela rua; aquele vaguear de que Cesário Verde tanto gostava. Um deambular pela escura rua, mas não tão escura quanto os seus demónios. 

Imagino-o um menino tão novo, tão perdido e tão criança. A vida andava muito depressa, e os seus pequenos passos não a conseguiam acompanhar. Uma criança que não brincava com as outras; que se sentia um forasteiro no recreio, que via coisas que os outros não conseguiam ver. Via pensamentos e via o terror. Órfão de carinho desde bebé. Órfão da vida no seu esplendor.

Imagino-o um jovem revoltado, envolto nas suas paixões e sombras. Sentia a vida de forma cruel e dura, e só a bebida e o jogo o podiam salvar. Quando olhava para as nuvens, não via o céu azul e pacífico. Os seus demónios tomavam a forma projectada pelo seu olhar genial.

Imagino-o um adulto solitário, sempre vestido de negro e envolto no mistério dos seus pensamentos. A sua vida poderia ser comparada a uma tempestade, daquelas que levam tudo pela frente. Acho que ele amou tanto, que não aguentou perdê-la, a sua doce Virgínia. 

É o pai das histórias de detectives de que todos gostamos... E tudo o que amou, amou sozinho.


Baseado no poema "Alone", de Edgar Allan Poe

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