A Teoria do Copo

O meu coração só me fala de ti.
Eu fico calada e não espalho o que ele me diz aos sete ventos
mas o tempo lá fora parece adivinhar tudo.
Sobriamente, o tempo passa e disfarça que lê a minha mente
como se eu não soubesse, ignorasse ou estranhasse,
que o tempo tudo sabe devido à sua antiquada idade
que o tempo tudo sabe graças ao vento que me espia
que me passa pela cara e arrepia
levando com ele tudo o que está cá dentro,
que bate descontrolado e que só me fala de ti
o meu coração.
E sempre que a secura me chega à boca
amarga e doce
tão calma e tão ávida
o meu coração só me fala de ti e da tua maneira engraçada de beber água,
cerveja ou vinho
de como colocas o copo num desalinho
bebendo tudo, gota a gota, inclinando o copo para um lado da boca.
«É para não sentir o frio nos dentes da frente»
foi o que respondeste ao meu olhar
curioso, surpreso, a pedir uma explicação.
«Está bem» respondi, mas sem convicção
porque aquela teoria não me parecia praticável
dado que o frio de uma bebida
tão líquida
a correr pelo céu da boca
é como o vento que vem de repente e que não podemos evitar,
porque ele nos espia, passa pela cara e arrepia.
Mas como o meu coração só me fala de ti
eu não fico calada e espalho o que ele me diz ao vento
porque já que o tempo lá fora parece adivinhar tudo,
subtilmente, digo que te amo
pondo o meu copo em desalinho
para não sentir o frio nos dentes da frente.
Aí, tu soubeste que o meu coração só me falava de ti.


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