E é assim que te amo
Em frente ao lago colhemos flores selvagens, daquelas que ninguém quer
ter em casa. Sempre foram as minhas preferidas. São as mais bonitas, selvagens
como a vida. Passeamos descalços pelas ervas sobre o céu salmão e azul claro,
como os teus olhos. Atirámos as flores à água para que fossem livres e criassem
raízes noutro sítio. Mergulharam no nosso lago preferido, cheio de lágrimas das
nuvens que o encheram; cheio de sal das nossas lágrimas, sal do nosso passado
que decidiu chorar ao relento, nas várias noites em que vim aqui sem ti.
Vimos o nosso reflexo desfigurado na água, e lembrei-me do dia de chuva
que não te deixou sair de casa, numa tarde de inverno. Vi-te pela janela do teu
quarto, por entre as gotas que escorriam a toda a velocidade. Prometeste sair
assim que o temporal abrandasse, e saíste como prometido.
Fomos ver a paisagem pela serra e molhámos os pés no mar salgado. Ainda
me lembro do cheiro do teu cabelo quando te dei aquele abraço demorado, e com
cheiro a mar. Ainda me lembro de ouvir o bater do teu coração contra o meu
peito. Ainda me lembro de pensar no quanto te amo enquanto te apertava nessa
camisola de lã branca. O amor é confuso como as pinceladas de um artista que
tenta descobrir qual é a cor certa, misturando uma centena delas na tela
branca, tentando encontrar a cor perfeita; a perfeição não existe, mas ele
atinge-a aos seus olhos, para sempre, naquele quadro que permanecerá eterno.
Não eterno no mundo, eterno no seu coração.
Vimos as luzes da cidade nessa noite. Vi a luz reflectida no teu olhar de
adolescente; um olhar que espera tanto da vida. Vimos o fogo-de-artifício e
riste-te como se fosse a primeira vez que o vias. Inclinaste a cabeça para trás
e deste uma gargalhada infinita, tão brilhante ou mais quanto as luzes que
apareceram no céu.
E é assim que te amo.
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