É preciso estar escuro para haver luz

  Está escuro e eu não quero estar aqui. Está calor e sinto a minha pele a tentar respirar. 

  Está escuro, mas lá fora o sol brilha tanto ou mais que o núcleo da terra.

  Aqui está escuro, mas dentro de mim vive uma galáxia de estrelas que me iluminam os olhos; fecho-os e tento encontrar outras galáxias, mas o universo é imenso, e dou essa procura como terminada.

  Lá fora não está escuro, é pena, pois não consigo ver as estrelas. Vou esperar até à noite, quando os pássaros já não cantam, para olhar para o céu e imaginar as auroras boreais e austrais que se formam em pontos opostos do mundo. Vou esperar que a noite chegue para pensar na grandiosidade do universo, que é tão sábio e a sua existência tão grande, que não se compara à galáxia que tenho dentro de mim a fabricar pensamentos. No escuro, vou imaginar que vejo aquelas cores fortes que o sol faz, azul, verde, roxo, vermelho, ou tudo misturado, e vou ouvir o seu som enquanto todas estas cores dançam no céu ao som de uma música feita pelas tempestades de fogo do sol. Vou esperar que a noite chegue para ficar boquiaberta com a sua beleza quase sobrenatural; chegada a noite, sinto-me ainda mais pequenina que as estrelas ao longe.

  Embora não pareça, no escuro podemos ver tudo, pois é preciso estar escuro para haver luz.